quinta-feira, 16 de junho de 2016

Efeitos do consumo de cannabis na gravidez e no período pós-parto


O  número  de  mulheres  que  fazem  uso  e  abuso  de  cannabis  aumenta  a cada ano.

As diferenças de uso entre os gêneros incluem os fatos de a mulher começar a usar a substância como forma desadaptativa de aliviar sintomas de problemas  mentais  preexistentes,  como  estresse,  sensação  de  alienação,  depressão,  ansiedade e estresse  pós-traumático,  progredir  do  uso  para  a dependência mais rápido que o homem; ser mais reativa aos gatilhos para uso; apresentar maiores taxas de recaída; sofrer consequências físicas e psicológicas mais severas. 

O cannabis  é a substância ilícita mais utilizada por gestantes e puérperas.

A gestação e o puerpério podem representar fatores de proteção em relação ao consumo  de  cannabis.  Por  outro  lado,  alguns  estudos  demonstram  que  há urgência  em  se  pensar  alternativas  de  tratamento  para  mulheres  que  não interrompem  o  consumo.  As  dificuldades  e  estresse  gerados  pela  gestação podem  representar  um  fator  de  risco,  sendo  o  consumo  uma  forma desadaptada de manejar as emoções negativas geradas nessa fase.

O  número  de  gestantes  e  puérperas  usuárias  de  cannabis  ainda  é subestimado.  Mães  podem  não  revelar  o  uso  ou  a  quantidade  exata  desse consumo por medo de serem julgadas, repreendidas ou mesmo punidas.

Uma das alternativas para se obter a confirmação do uso de substâncias é a análise do mecônio, sangue da  mãe ou fio de cabelo da mãe. Mundialmente estima-se que 3 a 10% das gestantes consumam cannabis. 

Alguns  estudos  verificaram  que  apenas  metade  dos  ginecologistas, obstetras, doulas e clínicos gerais perguntavam às gestantes sobre seu consumo de drogas.

O  consumo  de  cannabis  pode  gerar  efeitos  agudos,  crônicos,  físicos  e psíquicos:
-Efeitos  agudos  físicos:  olhos  avermelhados,  boca  seca,  taquicardia, aumento da pressão arterial;
-Efeitos crônicos físicos: lesão da traquéia e das vias aéreas,  inflamação e infecção pulmonar, bronquite e câncer de pulmão;
-Efeitos agudos psíquicos: sensação de bem-estar, calma e relaxamento, hilaridade, angústia, medo  de perder o controle mental,  prejuízo  de memória, atenção e aprendizagem, delírios e alucinações, leve euforia, intensificação das experiências sensoriais e alterações na percepção;
-Efeitos crônicos psíquicos: transtornos de ansiedade, prejuízo cognitivo, agravo de sintomas psicóticos, síndrome amotivacional.

Diante da interrupção do consumo de  cannabis  é importante preparar a mulher  para  o  possível  surgimento  de  sintomas  da  síndrome  de  abstinência:
Fraqueza, hipersonia, retardo  psicomotor, ansiedade, inquietação, depressão e insônia. Em geral os sintomas aparecem 24 horas após a cessação e atingem a maior intensidade entre 2 a 3 dias. 

Pesquisas  demostraram  que  o  consumo  de  cannabis  pode  influenciar  o desenvolvimento  fetal.

A  restrição  do  crescimento  é  a  maior  complicação:
retardo  no desenvolvimento do sistema  nervoso,  distúrbios comportamentais, más-formações  congênitas,  prejuízos  dos  sistemas  cardiovascular  e gastrointestinal. Modifica também a atividade de regiões do cérebro do feto a longo  prazo,  podendo  gerar  deficiências  emocionais,  depressão,  consumo  de substâncias  psicoativas,  hiperatividade,  desatenção,   impulsividade,  déficits  de memória  e  de  aprendizagem,  prejuízos  de  linguagem,  menor  habilidade visuoespacial  e  visomotora,  dificuldade  no  planejamento  de  tarefas  e  funções executivas de uma forma geral. 

O  tratamento  tem  duas  etapas:  a  primeira,  de  suporte  para  início  de tratamento  não  medicamentoso  da  síndrome  de  abstinência;  e  a  segunda,  de prevenção de recaída. 

Ainda  não  há  um  tratamento  farmacológico  estabelecido  para  a dependência de cannabis. 

Quanto  ao  aleitamento  materno,  deve-se  considerar  o  custo-benefício em cada caso, pois a  cannabis  pode estar presente no leito materno, e a mãe deve  ser  informada  sobre  os  potenciais  efeitos  da  substância   no  bebê  e  ser aconselhada a interromper ou diminuir o consumo. 

Ribeiro HL, Renno J, Demarque R et al
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