Independente da definição, o problema é frequente, com a prevalência variando entre 9 a 15% nos países em desenvolvimento incluindo o Brasil. No nosso país a frequência é maior nos estados do sul e do sudeste, sendo possível que este aumento esteja associado a um aumento do índice de partos cesareanos.
Após comentar sobre as causas de nascimento PIG (condições patológicas da mãe como Diabetes Mellitus e Hipertensão Arterial Sistêmica, tabagismo, uso de drogas ilícitas, doenças placentárias), a Profa. Margaret discutiu o que ocorre durante o crescimento fetal, o pós natal e as repercussões na fase adulta.
Durante o crescimento fetal o principal fator de crescimento é a insulina. No feto que está se desenvolvendo com restrições nutricionais a glicose é direcionada para orgãos vitais e “desviada” de tecidos não vitais, com consequente restrição ao crescimento. Essa criança tipicamente nasce com restrição assimétrica, ou seja, o sistema nervoso é preservado mas ocorre grande prejuízo ao desenvolvimento do tecido subcutâneo e muscular, com consequências para a fase adulta.
Após o nascimento, o prejuízo do crescimento é recuperado na maioria das crianças até os dois anos de idade. No entanto, em cerca de 10% das crianças não ocorre essa recuperação, com maior risco entre as crianças nascidas prematuras, aquelas com síndromes genéticas (p. ex., Silver Russell), aquelas com retardo de crescimento intra-uterino mais grave, com comprimento menor que dois desvios-padrão, ou com baixa estatura familiar. A altura se recupera mais precocemente, muitas vezes já aos 5 meses de idade, com o peso demorando um pouco mais. Um estudo do grupo da Profa. Margaret mostrou que essas crianças preservam a secreção hormonal de GH no basal e ao estímulo, sendo que algumas apresentam menor supressibilidade dos níveis de GH durante as 24h, e com os níveis de IGF-1 um pouco mais baixos que os indivíduos normais porém em sua maioria dentro dos valores de referência.
Em relação às indicações do uso de GH para ganho de altura final, após os 2 anos podem ser beneficiados com o uso de GH recombinante crianças com altura menor que -2,5 desvios-padrão, ou menor que -2,0 desvios-padrão aos 4 anos de idade, ou velocidade de crescimento abaixo do percentil 25, afastando-se doenças crônicas. O FDA americano usa critérios semelhantes aos brasileiros, sendo que a Europa é mais conservadora em relação ao uso de GH, indicando GH apenas entre crianças com mais de 4 anos de idade. Essa indicação mais tardia na Europa se baseia no achado de normalização da altura entre os 2 e 4 anos em um subgrupo de crianças nascidas PIG.
O GH é um hormônio contrarregulador, e seu uso nesses pacientes poderia em tese levar a piora da resistência insulínica e perfil metabólico por si só. Porém, já foi demonstrado que em adultos que usaram GH durante a infância para esta indicação o HDL e a Pressão Arterial é mais favorável do que nos indivíduos que não usaram GH (melhor HDL e Pressão Arterial), com homeostase da glicose semelhante.
Por último a Profa. Margaret discutiu as repercussões do nascimento PIG para a obesidade e síndrome metabólica na fase adulta. Um estudo indiano mostrou que quanto menor o peso ao nascimento e maior o peso aos 8 anos de idade pior os índices de resistência insulínica. Dessa forma, nessas crianças a preocupação em evitar o ganho de peso acelerado deve ser ainda maior, sendo estimulado o aporte nutricional adequado para a recuperação do crescimento porém evitando a hiperalimentação, incluindo o estímulo ao leite materno. Um estudo de Barker e Osmond de 1986 mostrou maior mortalidade por infarto em regiões com maior mortalidade infantil, sugerindo que uma situação nutricional desfavorável nos primeiros anos com ganho de peso na fase adulta eleva o risco de síndrome metabólica e consequente o de doença cardiovascular.